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Tubarões em Pernambuco

Dentre os tubarões potencialmente perigosos para os seres humanos, duas espécies foram reconhecidas como envolvidas em parte dos acidentes ocorridos no estado de Pernambuco: o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e o tubarão-cabeça-chata (Carcharhinus leucas). O trabalho de monitoramento e prevenção destes acidentes é feito pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões – CEMIT e por pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco desde a década de 1990.

Tubarão Tigre(Galeocerdo cuvier)

A alta incidência de casos e fatalidades no litoral de Pernambuco, especialmente no trecho compreendido entre as praias de Boa Viagem e Piedade, tem sido associada tanto a causas naturais como aos impactos ao meio ambiente causados pelo homem. Dentre as primeiras, está a ocorrência natural de diversas espécies de tubarões na zona costeira, seu próprio habitat, onde buscam as áreas mais rasas junto às praias ou mesmo dentro de estuários, para atividades de alimentação e reprodução.

Além disso, a presença de um canal profundo paralelo às praias de Boa Viagem e Piedade favorece a presença e o deslocamento de tubarões de maior porte, como o tigre e o cabeça-chata. Dentre os impactos causados pelo homem estão a poluição e degradação dos estuários e do ambiente marinho, e a pesca excessiva, que certamente contribuíram para reduzir a quantidade de alimentos disponíveis para os tubarões. Mais frequentemente citadas, estão as obras de engenharia como a do porto de Suape, cuja construção e operação coincide com o aumento expressivo no número de casos. Dentre os possíveis efeitos dessas obras estariam as mudanças da circulação marinha e a dificuldade de acesso dos tubarões aos estuários incorporados à zona portuária.

Complexo industrial e portuario de Suape

As providências que devem ser tomadas para a prevenção de novos acidentes estão em concordância com as manifestações recentes da Governadora de Pernambuco e dos pesquisadores ligados à Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios (SBEEL). Entre elas, a retomada urgente e o devido financiamento das pesquisas e monitoramento de tubarões no litoral, interrompidos desde 2015, e a continuidade de um programa de educação ambiental de ampla abrangência junto à população.

Praia de Boa Viagem, Recife, PE. 20 de novembro, 2011.

A sinalização de risco nas praias deve ser renovada e ampliada. Apesar de todas as medidas preventivas e do conhecimento sobre a presença dos tubarões e do perigo que representam, muitas pessoas insistem em entrar no mar nos trechos proibidos, sobrecarregando o trabalho dos bombeiros, socorristas e médicos, e o uso de equipamentos de resgate e de tratamento intensivo no hospital de referência. Tal atitude é prejudicial não apenas à saúde pública e ao turismo, como aos próprios tubarões, tão estigmatizados pela sociedade em decorrência das fatalidades, e ameaçados de extinção pela ação do homem. Quando vemos uma pessoa insistir em permanecer no mar logo após outro banhista ser atacado, não podemos aventar a ignorância, e sim a teimosia, e um profundo desrespeito ao próximo, à natureza, à autoridade, e à própria vida.

Ricardo de Souza Rosa, biólogo e doutor em Ciências do Mar pelo Virginia Institute of Marine Science, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia) da Universidade Federal da Paraíba.